sexta-feira, 21 de novembro de 2008

"and in the end, the love you take is equal to the love you make"

Como o distante tilintar de um qualquer piano, perdido, num qualquer cabaret, onde o condensado cheiro a tabaco e o livro de cima da mesa reavivam velhas memórias, para as lembrar que não passam senão disso, memórias, dando tudo o que havia e ainda há para dar, libertando o último suspiro, mas talvezo mais profundo, depois de um longo e cansativo dia de trabalho, Abbey Road apresenta um decaír da sociedade, de todos os princípios, da subjectividade da realidade, de uma banda que representou todo um movimento que hoje sustenta a complexidade da base artística em que vivemos. Todo um individualismo arrepiante, não tanto para o ouvinte, mas para o autor em si, destinado ao fim, e que num rasgo de inconsciência artística, nos tenta dar, ou tenta dar a si mesmo aquilo para que foi feito, a arte pura. O fim estava próximo, a euforia acabara já em The Beatles, o espectro do futuro era presença constante no estudo, sob a forma de Ono, a ânsia de poder começava a crescer nas mentes, a consciência de si mesmos, a dignidade de cada um e o respeito para com cada um fizeram-se ouvir, mas já todos o sabiam, o pavio há muito que se apagara. O experimentalismo futurista, as baladas prolongadas, as tentativas de parar a sequência natural dos acontecimentos, já por si conscientes do falhanço, a necessidade de se afirmar, e os rasgos melancólicos de súbita consciência, obscura, assombrosa e carregada de passado. A vida acabou ali, naquele momento parado no tempo, finalizando todo um ciclo que provavelmente nunca se voltará a repetir. A vida de uma década que construiu o mundo, a arte, e cuja influência constitui hoje a maior parte do nosso ser. A seriedade das músicas não engana, tal como a expressão daqueles quatro rostos naquela manhã de Agosto, a melancolia, a ânsia de acabar e de ao mesmo prosseguir, a explosão de arte, de sabores, de tudo o que acontece sepre que ouvimos um "something in the way she moves", ou num "here comes the sun king", em todos os mais pequenos momentos ao longo das dezassete composições d'Aquele Álbum, desde a monotoneidade rebumbante de "I Want You (She's So Heavy)" à esquecida por muitos "Her Majesty", na rajada do medley, das sete músicas interligadas extraordináriamente, criando quase como um organismo vivo cpaz de destruir o nosso, ou na assombrosa "Because". Hoje, dos quatro, dois vivem, mas naquele preciso momento, naquele vislumbrar momentâneo de um traunsente, naquele disparar fotográfico, nenhum deles sobreviveu ao fim, à fotografia que permanecerá para sempre como o momento da morte, da apoptose da arte, e do nascimento de um Homem Novo. A passadeira não mais será transposta.

"Esta gente parece ter alma, porque a música está a tocar"
José Gomes Ferreira

1 comentário:

andradeR disse...

não digas asneiras

http://usr66.blogspot.com/2007/12/abbey-road-o-fechar-de-um-ciclo.html


ps um dia nestas letras aleatórias que se tem que escrever para poder comentar calhou-me a palavra cacete....