sábado, 12 de julho de 2008

The Times They Are-A-Changing


Como adorador do génio de Bob Dylan não posso deixar de quebrar o silêncio de há muito neste blog, devido tanto à falta de paciência e creatividade como de tempo, com um artigo sobre este grande artista. Mais que um homem, esta personagem é uma lenda, um museu vivo, uma época, um Deus. Começando pela então afamada cultura folk e retorno às origens, aos 20 anos Dylan lança o álbum "Bob Dylan", despoletando então um sucesso que nunca mais ninguém foi capaz de parar. Com álbuns como "The Freewheelin' Bob Dylan" e "The Times They Are-A-Changing", Dylan mostrou ao mundo de que fibra era feito, sendo idolatrado por milhares que sucumbiam ao poder das suas canções de protesto, amor e sofrimento. Já em meados da década de 60, Dylan, já farto de tocar sempre no mesmo molde, e aliciado pelas tentações da música comercial, lança-se para um mundo bastante diferente, o mundo do sexo, drogas e rock n' roll. Em conjunto com os seus grandes amigos Beatles, o pequeno Bobby mostra mais um vez ao mundo que ele não é qualquer um, mas antes que ele é a maior, ou sem dúvida das maiores estrelas que o mundo já teve a honra de conhecer. Surge então a polémica à volta de Dylan. Jesus tinha se tornado Judas. Não conseguindo deixar de o idolatrar mas extremante revoltados pela "traição" à música folk, os fãs causam diversos distúrbios. No entanto, em 66, o músico sofre várias lesões na sequência de um desastr de mota, ficando 8 anos sem digressões e aparecendo somente e espontâneamente em alguns concertos, pouco tempo depois de ter editado o álbum que se viria a tornar um dos seus expoentes máximos, "Blonde on Blonde", em sequência dos últimos dois álbums "Highway 61 Revisited" e "Bringing It All Back Home". Durante os anos de recuperação, Dylan nunca deixou de publicar música, mas foi "Blood On The Tracks", um dos álbums mais esperados de sempre, que veio então a quebrar o silêncio dos oito anos, um álbum mais "blues", com uma mistura fantástica do estilo folk com o ritmo rock. Desde o princípio até aos dias de hoje, com muitos outros álbuns que deram de falar, e dos quais se destacam "Desire" e o mais recente "Modern Times", Dylan mantém a sua dignidade, a sua classe e a sua música. Na verdade, analisando bem toda a sua obra, é nos fácil constatar que Dylan nunca deixou os mesmos moldes, os moldes da música tradicional e a base de toda a outra música. Tenho a dizer que tive o prazer de assistir ao concerto do dia 11 de Julho no Festival Optimus Alive! (que já agora está de parabéns pelo excelente cartaz), e que foi qualquer coisa de fantástico, de transcendente. Digam os jornais o que digam, e que posso compreender pelo facto de terem ficado extremamente irritados e rancorosos por não terem sido autorizadas nem fotografias profissionais nem transmissões televisivas, nem perspectivas ampliadas dele nos ecrãs laterais, o concerto foi do mais expectacular que pode haver. Como alguém disse, Bob Dylan foi igual a si mesmo. O espectáculo começou com o clássico Rainy Day Woman #12 and 35 e com o público a fazer explodir efusivamente vários "Everybody Must Get Stoned". Depois do single de abertura de "Blonde on Blonde", o verdadeiro Dylan mostra-se e toca aquilo que bem lhe apetece e como bem lhe apetece, dando acordes a mais ou a menos e adulterando as músicas a seu belo prazer, o que para uns foi uma seca tremenda e que para outros, dos quais faço parte, uma mostra da sua imensa capacidade criativa e artistica. Por fim, Dylan canta uma maravilhosa Ballad Of A Thin Man, que confesso ser a minha favorita de toda a sua obra, fazendo mais uma vez que o público liberte a sua potência com um tremendo "MISTER JONES". Depois de uma longa pausa cheia de aplausos e gritos, onde só se ouvia a chamar "Bobby" entusiasticamente, "O Músico" volta para um encore com Thunder On The Mountain e com o clássico "Like A Roling Stone", onde o público pode então libertar-se por completo e perguntar "How Does It Feel?", fazendo o próprio Dylan rir-se simpatica e constantemente para o publico ao vê-los cantar assim com uma tal adoração. Com 67 anos de vida, é errado dizer-se que tem 46 anos de música. A música, essa sim, tem 46 anos de Dylan.