terça-feira, 30 de setembro de 2008

Sentado Com O Poeta Carlos Queirós No Cabaré Mecânico Instalado Durante O Carnaval No Antigo Jardim De Inverno Do Teatro De S. Luiz
E aqui estou à espera
Com este destino de dar sombra aos muros
Mas à espera de quê?
Que o despenhar do abismo me crie, enfim, asas?

Todos querem esquecer-se!
Todos querem esquecer-se!

E vêm pálidos lá de fora
Do caos das pedras e das nuvens
Dançar na pista a alegria de durar
Enquanto a orquestra ri mais alto em foxtrot.

Todos querem esquecer-se!
Todos querem esquecer-se!

E mostram com volúpia os olhos vazios
Aonde a música adiou para amanhã
O poiar do sofrimento em pântanos de cinza.

Todos querem esquecer-se!
Todos querem esquecer-se!

Sim, todos, todos.

Até tu, que dependuraste o suicídio no bengaleiro.
E tu, que deixaste à porta o desejo da tua mulher moribunda.
E tu, que andas a dançar com os gritos da rapariga violada no sótão.

E tu, e tu, e tu!

Todos querem esquecer-se!
Todos querem esquecer-se!

Só eu não!
Só eu vim para me lembrar dum crime qualquer,
Que cometi não sei onde nem quando, ou talvez nem cometesse.
Mas porque é que esta música me arranha o coração?
Um remorso de lágrimas de areia,
À procura de olhos
José Gomes Ferreira

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